Los Angeles

  Los Angeles, a Cidade dos Anjos. Parece até uma escolha simbólica para a aparição do serafim, afinal. 
 A casca ainda era a mesma da ultima vez que esteve nesse mundo, apenas com uma pequena modificação no vestuário, trocando a toga romana por um blazer negro. 
 Milhares de anos se passaram desde a última visita do serafim à Haled - Ou Terra, como os humanos a chamam - e os nativos não haviam mudado quase em nada. Bem, as cidades tinham crescido, e os terrenos aprenderam uma coisa ou outra. 
 Mas o cheiro desse lugar ainda é mesmo, se não for pior.

 Uma mistura de fumaça, óleo e gordura invadiram as narinas de Azriel quando o anjo surgiu em um beco, entre uma lanchonete e um prédio qualquer. Dessa vez não havia nenhum propósito oficial em sua visita, o anjo desejava apenas se distanciar um pouco da confusão que o Céu havia se tornado nos últimos tempos com a fuga de Lúcifer do Inferno. A guerra entre o Céu e o Inferno parecia nunca ter fim, desde quando a Estrela da Manhã se insurgiu contra Miguel e levou metade dos irmãos com ele. Deveras, muitos anjos tinham caído com o Diabo, mas Azriel era um dos que permaneceram fieis a Miguel e por isso ainda residia no Paraíso. 
 Se aquilo ainda puder ser chamado de paraíso. 

 Um leve "tim" soou de um sininho acima da porta quando o anjo disfarçado de homem passou por ela, adentrando no estabelecimento. A decoração era dos anos 60, com bancos giratórios próximos ao balcão e mesas fixas ao redor das paredes. Música tocava de uma jukebox em um canto, preenchendo o ambiente com o som de In top the world. 
 Despreocupado, o serafim chamou a garçonete e pediu um café, indo se sentar em uma das mesas enquanto pensava no que fazer.             

  

  Sempre perceptivo, o serafim avaliava tudo ao seu redor, desde a decoração nas paredes às pessoas que estavam ali. Alguns jugariam loucura vir à Haled, justo agora que a Estrela da Manhã caminhava novamente sobre a Terra e o Príncipe dos Anjos havia ordenado o retorno de todos os alados para o Céu, afim de defender o Paraíso.
  Mas quem chamaria o serafim de louco? Azriel era um anjo do Quinto Céu, um agente de Miguel, servo das ordens do Príncipe dos Anjos. 
 E o anjo nunca faz nada apenas por fazer. 

 A presença da celeste foi notada de imediato pelo serafim. Não pelo sino que tocou quando a porta foi aberta, mas pela aura angelica que ela emanava. A recém-chegada, porém, não pareceu notar a presença do anjo, e por um minuto Azriel cogitou a ideia de abandonar o estabelecimento, afinal, ele descera à Terra para ficar longe de seus irmão, e não para se encontrar com uma. 
 Mas, invés de se afastar, o anjo se dirigiu para onde a mulher-anjo estava e se sentou ao lado dela, por uns instantes apenas agindo normalmente como se fosse apenas mais um humano, até que falou sem virar o rosto:
- Não esperava encontrar uma irmã aqui, Annabel - Apesar de nunca terem realmente se falado no Céu, Azriel sabia o nome da querubim, assim como era esperado que todos os serafins soubessem.