One

              
 
 A noite estava cinzenta e amargamente fria, e os cães não sentiam cheiro de nada. A matilha se animava junta, com o rabo entre as pernas e o ar infeliz enquanto o vento os açoitava. O frio era excessivo para homens ou animais, mas ali estava John com os seus seis cães caçando o maldito lobo que vem atacando o rebanho. 
 Sua boca retorceu-se e ele quase conseguiu sentir o rubor e a irritação invadindo as pústulas que lhe cobriam as bochechas e o pescoço. 
 À essa hora deveria estar em minha cama junto a lareira, pensou infeliz. Mas desde que a fera começou a atacar os animais na fazenda o Coronel tinha ordenado que ele desse um fim nela, e se ela devorasse outro bezerro talvez ele que acabace tendo um fim. 
- Inferno! - praguejou quando o vento aumentou - Se tiver alguma coisa aqui, vai estar escondida em um lugar quente, não andando como um idiota nesse frio - Resmungou com ele mesmo e puxou a correia que prendiam os cães que ameaçavam querer voltar para trás - E o que diabos há com vocês? É melhor que encontrem logo o rastro, ou teremos que ficar aqui até o Natal. 
 Mas no fim eles acabaram não tendo que esperar muito, pois alguma coisa se mexeu no meio do mato e um dos cães rosnou. John apontou a arma, uma velha espingarda de caça, na direção de onde vinha o movimento e aguardou até poder ver o que estava lá. Mas, antes que ele consegui-se puxar o gatilho, um corrente de vento o apanhou e o capatas e sua matilha foram sugados para dentro do mato, restando apenas os ossos de seis cães e de um homem. 


 Annabel surgiu no beco ao lado de um restaurante. Ruziel, o príncipe da casta dos querubins, havia enviado ela ali para investigar os "estranhos distúrbios misticos" na região. A cidade não era muito grande ou conhecida, nem chegava a aparecer em todos os mapas daquele estado, mas passou a atrair a atenção do Céu pelo que estava acontecendo. A missão dada a ela era simples: recolher informações sobre o que estava causando os desaparecimentos e o abalo mistico e reportar ao Céu. 

 O Céu não era o único que tinha reparado no que estava acontecendo. Lúcifer, recém liberto e com desejo de voltar ao jogo, também notou o que estava acontecendo ali, com um pouco mais de clareza do que o príncipe guerreiro havia. O arcanjo ordenou que duas de suas duquesas, Isabel e Kesabel, fossem até a cidade para encontrar a fonte dos "portais" que se abriam ali. A escolha de enviar duas agentes para essa tarefa era meramente porque ele queria esvaziar um pouco a Corte Infernal que já estava ficando muito cheia nos últimos tempos. 
 As duas surgiram juntos próximas a um celeiro, nos limites de uma fazenda. A missão delas também era simples: Encontrar a origem dos portais e descobrir para onde eles convergiam, e eliminar qualquer um que tentasse fazer o mesmo, pois a Estrela da Manhã sabia que os seus irmãos no Céu também estariam interessados com o que acontecia naquela cidade.                

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Two

              
 
 Arcanjos, anjos, duques, demônios... Há mesmo uma diferença entre eles? Nessa respectiva ordem, cada um se considera melhor que o outro, mais forte, poderoso, inteligente. Mas no final são todos feitos do mesmo material chamado prepotência. 

 Querubins, os guerreiros perfeitos, mestres de luta, praticamente invencíveis em combate singular. Porém, todas essas qualidades os tornam um tanto arrogantes e incapazes quando se trata de extrair informações de forma pacifica, conversando. Talvez seja por isso que o Céu geralmente envia serafins para cumprir tarefas na Haled, já que eles são muito mais hábeis em persuasão e invasão mental. Mas, se Annabel estava ali, só podia significar uma coisa: A tarefa exigiria muito mais do que um talento com as palavras. 
 O homem abordado pela mulher-anjo não deu sinais de que havia escutado o que ela disse, nem ao menos pareceu notar que ela estava ali. Na verdade, ele apenas continuou a cortar o seu bife e a olhar para uma televisão velha na parede, onde não mostrava nada mais do que estática. 

 Orgulhosos, poderosos e soberbos, esses são os Duques Infernais. Cada um deles se considera superior ao outro, cada um se diz mais inteligente ou poderoso, cada um deles se diz o mais lela ao Arcanjo Sombrio; e cada um deles almeja tomar o seu lugar como Rei do Inferno - Ou Rainha. 
  O capataz de fato se aproximou das "garotas", mas passou direto por elas, dirigindo-se para a cerca ao lado e se preparando para trocar as ripas. Assim que Kesabel tentou sondar a mente dele, ela sentiu que havia levado um soco no estomago e cambaleou para trás, sendo expulsa da mente do homem. Porém, assim que se recuperou no choque, pôde ouvir uma leve gargalhada em sua mente, que durou seis segundos antes de desaparecer.         
 

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Three

              
 
   O homem, e todo o resto do restaurante, estava ignorando Annabel, agindo como se ela não estivesse lá. O balconista limpava uma taça com um pano encardido, um garçom circulava entre as mesas, fazendo sempre o mesmo trajeto; duas mesas de distancia onde a querubim estava, uma velha fumava em um cachimbo, apesar de que o mesmo já estra apagado. Na parede havia um cartas em cores verde e cinza com os dizeres: "Seja bem vindo à Mystic Hill" e em baixo uma frase em letras menores "Não deixe de visitar as antigas minas de ouro"   
  O sujeito havia acabado de levar uma garfada á boca quando Annabel o puxou pela camisa e o imprensou na parede, revelando um pouco da verdadeira natureza da sua casta. O homem a olhou pela primeira vez, primeiro com uma expressão aterrorizada, como se tivesse acabado de acordar. Porém, antes que ele dissesse qualquer coisa, a mulher-anjo invadiu a sua mente - Ou tentou. 
  Assim que a querubim forçou passagem pela mente do sujeito, ela sentiu como se o chão estivesse se desfazendo e que tudo a sua volta estivesse rodando, até que tudo o que ela podia ver era o homem e um grande borrão branco à sua volta.
 - Vocês anjos são tão engraçados - Uma voz feminina falou, mas foi a boca do homem que se moveu - Sempre pretensiosos, achando que podem chegar e pegar o que querem - O rosto do homem começou a se desfazer, com a pele se descolando e revelando a carne - Quer entrar na cabeça dele? Eu te ajudo, querida. 
 Então ela percebeu que ela mesma estava se desfazendo em minusculas partículas de luz, começando pelas mãos que seguravam o homem e indo para os braços, até que toda a querubim desaparecesse. 
 
 Havia um grande carvalho no centro da praça. se erguendo majestosamente sobre todas as casas ao redor. As crianças corriam alegremente em volta dele, enquanto os adultos conversavam sentados em bancos de madeira. Ninguém parecia reparar que o garoto estava escalando a árvore, ninguém além da irmã dele.
- Tedy, o que você está fazendo? - A garotinha perguntou - Mamãe falou para você não ficar subindo nas coisas. 
- A mulher disse que eu tinha que pegar o tesouro que estava aqui - Ele respondeu olhando para baixo - Ela disse que está aqui em cima. 
 A garotinha mordeu o lábio e trocou a perna de apoio.
- Ela me assusta... - Falou quase em um sussurro, e por isso o garoto não a ouviu. 
 Ele continuou subindo, até alcançar uma fenda no tronco, oculta entre os galhos. Tedy se espremeu ali, até que reparou em um objeto brilhando dentro do tronco. Com um sorriso de satisfação infantil, o garotinho esticou o braço e puxou uma adaga rubra de lá. Porém, no momento em que ele a  tocou uma forte luz o cegou, transformando a copa do carvalho em um farol. 
  Quando a luz enfim sessou, o garoto não estava mais lá, a garota ão estava mais lá, todas as crianças e adultos não estavam mais lá. 
 Apenas a adaga dentro da árvore. 
 E um grito de uma menina cortou o ar. 

 Annabel acordou com o grito em sua cabeça, e se deparou caída no chão do restaurante. O homem, e todos as outras pessoas que estavam no restaurante, vinham na direção dela agora. O garçom trazia uma faca nas mãos, a velha do cachimbo tinha pego uma cadeira, e o balconista sacou algo que lembrava uma  velha pistola. E o homem a agarrou por traz assim que ela levantou, passando o braço em volta do seu pescoço em uma tentativa de imobiliza-la.  


  No outro lado da cidade, Kesabel se recuperava do inesperado choque enquanto Isabel a olhava confusa. A risada em sua mente era soava feminina e divertida, como se alguém estivesse realmente achando graça nas duas caídas. Porém os caídos já foram anjos, e ainda conservam um pouco da força que outrora tiveram, além dos poderes que ganharam após a queda, e seres assim não desistem no primeiro contratempo. 
  Kesabel logo se recuperou e resolveu deixar o capaz quieto e ir investigar em outro local, e Isabel apenas a seguiu. Logo as Duquesas puderam sentir uma onda de energia passar por elas, na forma de uma leve brisa, mas carregada de uma força mistica. Elas discutiam sobre ir ao celeiro, quando Isabel viu por cima do ombro de Kesabel o homem se aproximando com o martelo erguido, pronto para desferir um golpe na cabeça de sua parceira se ela não se movesse. E, no mesmo instante, o som de um tiro foi ouvido e Isabel cambaleou quando uma bala penetrou sua perna esquerda, vinda da arma de um segundo homem que saiu de traz do celeiro. O tiro, porém, não era capaz de realmente feri-la, mas era suficientemente capaz de danificar a sua casca.               

     
            
 

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Four

              
 
  Haverá algo mais tentador para um querubim do que um luta? Ou algo mais satisfatório do que esmagar os seus inimigos, provando a sua superioridade? Não, provavelmente não. As espadas dos anjos guerreiros já foram banhadas incontáveis vezes com o sangue de demônios, deuses e até com o de outros anjos. Porém, a casta possui o seu ponto fraco, e a afirmação de que essa fraqueza é exatamente aquilo que os faz forte é unanime. Fortes, sim, habilidosos em luta, isso é inegável; mas lhes falta cautela. 

 Ao se ver cercada por seres hostis e que estavam prestes a ataca-la, Annabel se deixou levar pela adrenalina - Se é que os anjos possuem isso - e pelos seus instintos de guerreira. O golpe desferido no homem que a agarrou despedaçou a mandíbula do sujeito e o mesmo caiu no chão se afogando com o próprio sangue. O segundo home teve as suas costelas dilaceradas pelo chute da mulher-anjo, e a que de alguma forma conseguia levantar a cadeira em posição ameaçadora bateu com força a cabeça no chão quando caiu, morrendo na hora. Por fim, o balconista havia sacado uma velha barreta, tendo tempo de disparar três tiros contra a querubim antes que a mesma o jogasse ao chão, fazendo com ele batesse no balcão durante a queda e não levantasse mais. 
  O senário no final era de uma chacina, com quatro pessoas caídas no chão, todas aparentemente sem vida ou perto disso. E a querubim, os tiros que a penetraram acetaram o pulão direito, assim como o rim do mesmo lado e o último passando próximo ao coração. Os projeteis no entanto não tinham poder de matar uma celestial, mas um leve sopro do dano na casca se projetava na essência dela.
  O plano de Annabel era sair e ir na praça que a visão lhe havia mostrado, mas ela mostrava ser uma tola se achava mesmo que seria tão fácil assim. No momento em que cruzou a porta do restaurante, percebeu que toda a rua havia sido tomada por uma espeça névoa que ocutava tudo ao redor, e a querubim não era capaz de ver nada além de vultos se movendo, indistintos, não muito longe, mas a aura que emanavam não era nem um pouco amigável.
  E não havia nem sinal da praça, se é que ela realmente exista.  


  Não há ninguém que negue o poder que os Caídos possuem, e poucos são os tolos que ousam enfrenta-los no Inferno. A maioria deles responde apenas ao Arcanjo Sombrio, desprezando e zombando das demais castas infernais. E, no entanto, toda a sua soberba os trona um pouco descuidados, e frequentemente se esquecem que na Haled há muito mais do que demônios para se vigiar. 
  Isabel pagou o preço desse descuido com um tiro na perna, e teria levado outro se a arma não tivesse falhado na segundo disparo, porém ela não fez nada além de sacar sua arma e observar. Jezabel por muito pouco não pagou um preço semelhante, por sorte escapando de ter a sua casca inutilizada pelo martelo do capataz. O homem, se aquilo for mesmo um homem, foi arremessado para trás pela força do golpe da Duquesa Infernal, tendo algum órgão interno destruído pelo impacto da imensurável força de anjo que ela ainda conservava.
  A infernal logo então conjurou dos confins do Inferno um de seus "mascotes", porém convocar um cão infernal exigiu um pouco de energia dela, mas nada que Jezabel não fosse capaz de pagar. O cão saltou para cima do homem que estava com a arma, que, por ser apenas uma escória humana, não chegava nem a ser capaz de vê-lo, e rasgou a gargante dele com suas presas e abriu o seu peito com as garras. A névoa já começava a se formar ao redor deles quando o cão investiu contra o segundo homem, apesar deste não ter se levantado após ter sofrido o golpe, e teve as suas entranhas arrancadas pela ferocidade do totó.
  Foi só então que as duas infernais notaram que não eram mais capazes de ver praticamente nada a sua volta, tão densa que a nevoa estava. De fato, elas só eram capazes de ver uma a outra por estarem a menos de dois metros de distancia. E logo ouviram o som de madeira rangendo quando o celeiro se abriu, junto com o som de passos que se aproximavam e tintilar de metal raspando em metal. 

HP/NE:

                      
            
 

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Five

              
 
 - Aqui! - A voz da garotinha soou pela rua - Vem aqui. Eu aposto que você não me pega, Tedy! 
 O vulto passou por Annabel correndo, mas a silhueta era claramente de uma garotinha. 
 - Mari, volta aqui! - A voz do menino falou, junto com o seu vulto por entre a névoa que corria na mesma direção que a garota. 
 A risada infantil da menininha ecou por toda a rua, mas logo desapareceu e tudo retornou ao silencio, com apenas o som do vento que aumentava a todo instante. 
  Annabel tinha se curado do ferimento das balas - Que, apesar de nunca serem capazes de mata-la, diminuiriam o rendimento de sua casca -, mas o seu caminho continuava inserto. Os dois vultos das crianças tinham passado na frente dela, mas ao seu redor outros tantos caminhavam aleatoriamente no meio da névoa, que não se rendia nem mesmo ao vento que agitava nos cabelos da mulher-anjo.
 
 - Perdida? - A mesma voz de mulher que falou com ela antes ecoou em sua mente
 Da névoa a sua frente uma imagem começou a se formar, primeiro embaçada, mas logo os contornos se acentuavam até que uma mulher ficou visível de frente a Annabel. Ela era alta, aparentando não ter mais de 28 anos, com longos cabelos negros e olhos cinzentos como a névoa que os rodeava e que transmitiam um brilho ancestral; tinham lábios vermelhos e a pele branca, em tons tão claros que quase brilhavam e estava trajando um longo vestido de seda cinza com um diadema encrustado de safiras na cabeça. 
- Olá, Annabel. Seja bem-vinda a minha cidade, só é uma pena que você não possa ficar muito. - A mulher disse, com um sorriso quase amigável nos lábios, mas seus olhos não escondiam a malicia - Meu nome é Psiquê, e, infelizmente, teremos que tratar de você.


  No seu trono, Lúcifer poderia estar rindo do comportamento de suas duas servas, mas com a névoa nem mesmo o Inferno ou o Céu era mais capaz de ver a cidade, como se a mesma tivesse desaparecido.
  O cão de Jezabel, batizado carinhosamente de Hela, havia cumprido o seu proposito, estraçalhando os dois mortais. Mas, como os anjos e demônios costumavam dizer: "Para cada macaco de barro que se extermina, outros três parecem tomar o seu lugar". 
 Os sons de passos aumentaram e logo elas puderam ver a silhueta de varias pessoas se aproximando, dezenas delas que pareciam portar machados e garfos, ou coisas parecidas com isso. Eles já estavam chegando perto das duas Duquesas quando Isabel resolveu incendiar o celeiro. O fogo se alastrou em uma velocidade acima do esperado, devido ao feno e a madeira ceca que havia ali. Pedaços do todo também começaram a cair quando as vigas de sustentação foram incineradas, e não precisava ser muito esperto para saber que as duas seriam esmagadas se continuassem ali. Porém, a entrada estava bloqueada por uma multidão de pessoas que pareciam completamente indiferentes ao incêndio.  

HP/NE:

                      
            
 

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Six

              
 
  Os olhos da mulher brilharam de malicia quando Annabel falou, e aquelas órbitas cinzas a fitavam como se lê-se a alma da querubim - Isso, claro, se ela tivesse uma, o que não é o caso. Os lábios dela também se curvaram para cima, em um sorriso vermelho. 
- Ah, minha jovem querubim - A mulher começou, com a voz serena e uma leve inclinação da cabeça sobre o ombro esquerdo - Você é mesmo tão lerda quanto aparenta ser? Você não sabe quem eu sou? Deveria saber, os seus massacraram tantos dos meus - Ela soou como se estivesse ofendida, mas logo continuou, falando no mesmo tom que um professor explicava o assunto para um aluno lento - Mystic Hill pertence a mim. Desde que vocês, celestiais, resolveram se intrometer aqui na Terra, nós, as divindades, começamos a perder terreno. Vocês querubins assassinaram várias divindades em suas campanhas, expulsando-nos de Roma, do Egito e até mesmo da nossa casa, a Grécia. - Ela se aproximou da mulher-anjo, rodeando Annabel em passos calmos e despreocupados enquanto falava, como se quisesse vê-la melhor - Todos os humanos aqui são devotos a mim. Bem, alguns voluntariamente e outros nem tanto, mas todos são meus. Não há lugar para anjos nessa cidade, e você não tem poder para me enfrentar aqui, então sugiro que me entregue essa espada e me deixe mata-la de uma forma limpa, meu querido Eros está me esperando e não quero me atrasar mais, ou sujar minhas mãos com você. Além disso, parece que há mais duas intrometidas de que eu preciso cuidar depois de terminar com você. - Ela parou de frente a querubim, olhando para ela com o brilho cinza nos olhos e um sorriso quase amigável. E a situação para Annabel estava bem simples: Ou ela se entregava e morria, ou ela lutava com a deusa.


 Fogo.
 O Inferno está cheio de fogo, cortesia de Miguel, e Isabel parecia gostar das chamas. O fogo agiu de uma forma sobrenatural, queimando em uma velocidade acima da que seria normal, e logo partes do celeiro começaram a cair, algumas esmagando os humanos que estavam ali, mas não que eles se importassem. Dois ou três dos "macacos de barro" estavam realmente em chamas, mas continuavam caminhando na direção das duas infernais. Porém, a mente delas, ao contrario da dos humanos, ainda estava funcionando muito bem, e elas logo perceberam o que o melhor era sair de lá. 
 Ambas ressurgiram em uma distancia considerável do incêndio, de onde podia ver o clarão do fogo por entre a névoa. Mas a raiva de Isabel a fez querer ferir ainda mais os nativos, dando-lhes um "abraço de trevas" para demonstrar a sua simpatia. Elas não puderam ver muita coisa após os humanos estarem cobertos pelas sombras, mas um após um eles caiam, sem ar nos pulmões para se manterem em pé, afogados pelas trevas.
 Após isso, nenhum som mais era ouvido além do crepitar do fogo consumindo o celeiro, nada mais se movia, até que:
- Oi - Uma voz infantil falou atrás delas, e quando se viraram viram uma menininha. A criança devia ter algo entre cinco ou seis anos, possuía cabelos negros e olhos cinza-claros - Vocês viram o meu irmão? - Ela perguntou, então levantou uma mão até a altura da cabeça - Ele é dessa altura, se parece muito comigo. O nome dele é Tedy. Vocês viram ele? Eu não consigo achar ele, e estou com frio.      
   
                

HP/NE:

                      
            
 

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Até então achava que a ideia do fogo e as trevas teria sucesso e eu poderia ir para algum motel vagabundo e transar com algum estranho de rostinho bonito, o silêncio dos caipiras era uma dadiva, o barulho do fogo era uma musica e tudo se encaminhava na mais perfeita ordem, ao que parecia tínhamos acabado com o problema. Um engano, mais um e aquela altura não podíamos cometer erros.

-O que disse Jezabel?-Perguntei olhando para trás, e minha surpresa? Uma garotinha, bom sua aparência era de uma garotinha, perguntando do irmão. -Tedy?- Perguntei a ela, arqueando uma de minhas sobrancelhas, ela continuou a falar, eu apenas a fitei, sabia que poderia ser qualquer coisa, menos uma criança.

Minha cautela deveria ser maior perante a essa “criança” de olhos cinzas. –E o que vocês fazem por aqui? Isso não é hora de crianças estarem na rua, não concorda?- Sorri ironicamente, com ambos os braços para trás, sacando minha espada angelical que há muito tempo me acompanha, a deixando atrás de meu corpo.

-Sugiro que mostre sua face, ou vá para sua casa. – Disse mantendo a posição –Se esta com tanto frio, vá ate aquela grande fogueira- Sorri novamente para a garotinha, ao fita-la tentei entrar em sua mente e descobrir o que era.
 

Poderes e Armas:

 

Seven

              
 
 Um blefe, isso teria soado claro para qualquer querubim que já tivesse enfrentado uma divindade pagã. Eles eram poderosos, sim, mas no seu tempo, e ele já passou. Com o mundo ignorando ou negando a sua existência, entidades como Psiquê já não possuíam mais o poder de outrora, pois, assim como qualquer espirito evoluído, eles precisavam da adoração dos humanos para conservar os seus poderes e a sua existência. Então estaria claro que Psiquê tinha apenas tentado assustar Annabel, que ela erroneamente jugou ser fácil de se dobrar, mas a querubim mostrava ter a coragem desmedida de sua casta. 
 A ameaça tinha sido um blefe, nada mais do que isso. 
 Ou não.
 
 Annabel atacou com sua espada em mãos, e Psiquê desapareceu como era de se esperar que qualquer entidade pagã faria ao ser confrontada por uma guerreira alada, mas foi para reaparecer atrás da querubim. Com um meio sorriso nos lábios, a divindade estreitou os olhos e lançou uma onda psíquica contra a mulher-anjo, forte o suficiente para provocar grandes dores de cabeça na celeste e incapacita-la por alguns instantes.  
 Talvez Psiquê não estivesse brincando sobre ter soberania nessa cidade, afinal. 


 Onde estará a soberba e autoconfiança que por tantos milênios foram a marca dos Duques Infernais? Terá eles adquirido o medo do contato com simples crianças de barro para Isabel e Jezabel terem ficado tão ariscas com a repentina chegada da menininha? Pelo bem delas, é melhor que não, pois o Príncipe das Trevas não tolera fraqueza em seus ducados. E a garota apenas sorria, um tanto tímida, é verdade, mas ainda assim sorri para as duas infernas que para ela provavelmente não passavam de duas mulheres que ela nunca viu.
- Aquele celeiro era do Boby - Ela disse quando Isabel indicou a grande construção em chamas. Mas estranhamente não havia alteração em sua voz - O John trabalhava lá, mas ele sumiu , assim como os outros, e os cachorros também. Por que tem fogo nele? Foram os homens estranhos que fizeram aquilo? - Ela indagou olhando nos olhos de Isabel, e depois se virou para Jezabel - Meu nome é Marie, mas todo mundo me chama de Mari. Qual é o seu nome? E você viu o meu irmão? 
 Foi só aí que Isabel tentou entrar na mente da garota, um erro que já se jugaria que a duquesa tivesse aprendido a não cometer. Primeiro, pareceu dar certo, com a infernal recebendo vislumbres de uma praça, um garotinho subindo em uma árvore e uma forte luz brilhando, mas o jogo se inverteu aí, e foi a menininha que começou a adentrar na mente de Isabel, recebendo tudo que havia ali: O Céu, sua queda, o Inferno, os demônios, o fogo consumindo as almas e tudo mais que havia na mente da infernal, e tudo em cinco segundos. Quando acabou, Isabel caiu de costas no chão, completamente tonta para se manter em pé no momento, e a menininha parecia aterrorizada, olhando de Isabel para Jezebel.
- O... o que foi isso? - A voz dela saiu entrecortada, e ela dava passos vacilantes para trás - Por que aquelas pessoas estavam gritando?                         

HP/NE:

                      
            
 

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